Um estudo publicado na renomada revista Nature Geoscience trouxe à tona uma descoberta inquietante: a aparência conhecida como “Supercontinente” pode, em um futuro distante, transformar a Terra em um ambiente hostil para a vida humana e outros mamíferos.
Essa transformação, prevista para ocorrer em cerca de 250 milhões de anos, seria resultado do movimento natural das placas tectônicas, que levaria à formação de um único continente chamado Pangea Ultima.
Embora o cenário pareça digno de ficção científica, ele é fundamentado em dados científicos robustos. Pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, desenvolveram modelos climáticos avançados para investigar as implicações dessa reorganização geográfica global.
Os resultados sugerem que o futuro da Terra poderia ser significativamente diferente do que conhecemos hoje.
Antes de compreender o impacto da Pangea Ultima, é importante entender o conceito de supercontinente. No passado remoto, cerca de 335 milhões de anos atrás, todos os continentes da Terra estavam unidos em uma única massa terrestre conhecida como Pangeia.
Com o passar do tempo, o movimento das placas tectônicas dividiu essa massa, formando os continentes como os atuais.
Esse movimento, porém, é contínuo. À medida que as placas tectônicas continuam se deslocando, e estudos indicam que, no futuro, os continentes voltarão a se unir, formando um novo supercontinente. Essa reorganização, entretanto, não será meramente geográfica; ela traz profundas consequências para o clima e a habitabilidade do planeta.
Pangea Ultima: um planeta quente e inóspito
De acordo com o estudo, Pangea Ultima deve se formar ao longo da Linha do Equador, onde a exposição à radiação solar é mais intensa. Essa localização, combinada com outros fatores climáticos, poderia tornar o planeta extremamente quente e seco.
As temperaturas podem variar entre 40°C e 50°C, com picos diários ainda mais extremos. Isso criaria condições insuportáveis para a maioria dos seres vivos, incluindo humanos.
Além disso, a formação do supercontinente pode intensificar a atividade vulcânica. Erupções frequentes liberaram grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera, agravando ainda mais o efeito estufa. Paralelamente, o Sol, que será mais brilhante e emitindo mais energia, contribuiria para o aumento global da temperatura.
Alexander Farnsworth, principal autor do estudo, explica que “os humanos e outros mamíferos, incapazes de dissipar o calor excessivo através do suor, não conseguiriam sobreviver em tais condições”.
Impactos no ecossistema
As simulações indicam que apenas 8% a 16% das terras da Pangea Ultima seriam habitáveis para mamíferos. As áreas restantes resistiriam a condições climáticas extremas, tornando impossível o desenvolvimento de ecossistemas complexos.
A biodiversidade, já ameaçada pelas mudanças climáticas atuais, seria bastante reduzida nesse novo cenário.
O aumento do CO₂ na atmosfera também poderia atingir níveis duas vezes maiores que os atuais, mesmo se as emissões humanas cessassem imediatamente. Caso contrário, esses níveis poderiam ser atingidos muito antes, colocando em risco a vida no planeta bem antes do surgimento do supercontinente.
Embora a formação de Pangea Ultima esteja preparada para um futuro extremamente distante, o estudo serve como um alerta para os desafios climáticos que já enfrentamos. As temperaturas extremas projetadas para esse cenário refletem, em menor escala, os eventos que já estão se intensificando.
Eunice Lo, coautora do estudo, enfatiza a importância de agir agora: “Embora estejamos prevendo um planeta inabitável daqui a 250 milhões de anos, o calor extremo já está impactando a saúde humana. Reduzir as emissões de carbono e atingir emissões líquidas zero o mais rápido possível é crucial para evitar que cenários catastróficos ocorram num futuro próximo”.
Fazer variação para um intervalo de tempo tão longo envolve inúmeras incertezas. Fatores como a evolução da tecnologia, a adaptação das espécies e possíveis eventos astronômicos são difíceis de prever.
No entanto, os cientistas destacam que as tendências atuais, como o aquecimento global e o aumento das emissões de CO₂, podem acelerar a chegada de condições adversas.
Benjamin Mills, professor da Universidade de Leeds e coautor do estudo, observa que “o conhecimento sobre o passado geológico e as projeções climáticas são ferramentas valiosas para entender os limites de habitabilidade do planeta e decisões tomadas fundamentadas para mitigar os impactos”.
A ideia de um supercontinente como Pangea Ultima é um lembrete poderoso da dinâmica do nosso planeta e da vulnerabilidade da vida diante de mudanças extremas. Embora os acontecimentos como esses estejam fora do controle humano, nosso papel no agravamento das mudanças climáticas atuais é inegável.
Este estudo reforça a necessidade de políticas ambientais robustas, inovação tecnológica para reduzir emissões e a conscientização global sobre a importância de proteger o planeta para as gerações futuras. Afinal, o futuro da Terra, seja em 250 anos ou 250 milhões de anos, depende das ações que tomarmos hoje.
Referência da Matéria: Meteored Tempo.com
Estudo: Nature Geoscience